Não é só na Argentina…
Depois das recentes demonstrações de racismo por jogadores de futebol da Argentina, é salutar manter as reflexões sobre o tema.
Recentemente, pude passar um dia em Portugal e, sempre interessado num bom bate-papo, me pus a conversar com os locais sempre que podia. Falamos sobre política, economia, futebol… Numa ocasião, conversando com uma moça numa loja de roupas, eu perguntei o que ela tinha achado da atuação da seleção portuguesa de futebol na Eurocopa 2024. Ela respondeu: “Foi ruim, mas teve algo de bom”. Surpreso com a resposta, insisti para que ela me explicasse melhor as razões daquela opinião. Expliquei que eu entendia facilmente o porquê de ter sido ruim a eliminação de Portugal nas fases eliminatórias, mas o que havia de bom nisso? Ela arrematou: “Foi bom porque não foi um jogador negro a perder o pênalti”. Sendo negra, a moça me garantiu que o elemento racial seria levado à tona nas conversas sobre futebol.
É triste constatar uma das táticas dos supremacistas raciais. Aqueles que elaboram teorias de superioridade racial elegem um fator para fomentar medo em alguns grupos de pessoas. Tal fator pode ser a religião, a cor da pele, a região de origem. Outras características que compõem a identidade de indivíduos e de certas categorias de pessoas têm menor peso na avaliação dos supremacistas. Os “gerentes” desse sistema ideológico querem nos fazer crer que há inimigos naturais entre a humanidade. Depois de fomentar o medo, disparam gatilhos simbólicos e desencadeiam as discriminações preconceituosas, impulsionando instintos animalescos. Como se animais que são inimigos naturais se encontrassem. Conduzem enormes contingentes de pessoas a agirem quase que por automatismo humano.
Tanto mais será eficaz o plano dos supremacistas quanto mais gravarem no imaginário de sua militância o quadro de um mundo caótico ou às portas do caos cuja ordem deve ser restaurada ou preservada com o combate ao inimigo imaginado. E para eles o combate deve ser empreendido como se dele dependesse a preservação da própria vida.
A estratégia conta com recortes sensacionalistas da realidade em que um integrante do grupo a ser atacado é flagrado cometendo um ato bárbaro.
Neste caso, a culpa de um indivíduo recai sobre toda a coletividade. Milhões expiam a culpa de um só ou de poucos.
É fundamental reconhecer e combater esse tipo de reducionismo presente no preconceito racial ou étnico. Cada indivíduo é único, com uma história, uma cultura e uma identidade próprias que vão muito além de características superficiais como cor da pele ou origem étnica. É essencial promover o respeito pela diversidade e pela igualdade entre todos os seres humanos, rejeitando qualquer forma de discriminação baseada em estereótipos simplistas e preconceituosos. O diálogo aberto, a educação inclusiva e o combate ativo ao discurso do ódio são passos fundamentais para construir uma sociedade mais justa, solidária e verdadeiramente democrática.
É importante que pessoas públicas como políticos, artistas e atletas tenham consciência das suas responsabilidades perante o público. Juntos, podemos superar essas barreiras e construir um mundo onde prevaleça o respeito mútuo e a valorização da pluralidade humana.