Aumenta a incidência de raios que atingem o Distrito Federal
Com mais de 48 mil ocorrências em 2024, região enfrenta riscos maiores de acidentes e danos materiais
O número de raios que atingem o Distrito Federal tem crescido a cada ano, com um aumento de 18,7% em relação ao ano passado. De acordo com dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (ELAT/INPE), esse aumento está dentro da normalidade para o DF, sem uma causa física específica, e entre janeiro e outubro deste ano foram registrados 48.461 raios, enquanto no mesmo período de 2023, o número total foi de 40.818. Esse fenômeno natural é influenciado pelas condições climáticas da capital, especialmente durante a primavera e o verão.
Raios e relâmpagos, embora muitas vezes utilizados como sinônimos, possuem distinções importantes. Segundo o ELAT, relâmpagos são descargas elétricas que ocorrem dentro das nuvens de tempestade, enquanto raios são as descargas que atingem o solo. Em termos técnicos, os raios podem ser de dois tipos principais: ascendentes, quando começam no solo e sobem em direção à tempestade, e descendentes, quando saem da nuvem em direção ao solo.
Eles percorrem distâncias de até 5 km e podem atingir uma intensidade de 30 mil Ampères, cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico comum. O som do trovão é outro aspecto que acompanha os raios. Ele ocorre quando o ar ao redor do raio é aquecido rapidamente, causando expansão e uma onda sonora. Apesar de o som em si não representar perigo, o deslocamento de ar próximo a ele pode ser violento o suficiente para derrubar uma pessoa e, em casos extremos, resultar em ferimentos graves.
Embora a chance de uma pessoa ser diretamente atingida seja baixa – estimada em menos de 1 para 1 milhão – essa probabilidade aumenta em áreas descampadas e durante tempestades intensas. Entretanto, não é a incidência direta do raio a maior causadora de mortes e ferimentos. Geralmente, são os efeitos indiretos associados a incidências próximas ou efeitos secundários que trazem risco, como estar em campos descobertos ou perto de objetos que conduzem eletricidade.
Os riscos associados vão desde queimaduras até paradas cardíacas e respiratórias, podendo deixar sobreviventes com sequelas psicológicas e físicas duradouras. Além de afetarem diretamente as pessoas, podem provocar incêndios, quedas de energia e danificar sistemas elétricos e eletrônicos.
Incidência
As altas temperaturas e umidade características do Distrito Federal nos meses de primavera e verão contribuem para a formação de nuvens de tempestade, onde as descargas elétricas ocorrem. O atrito entre partículas de gelo dentro dessas nuvens gera campos elétricos de alta intensidade, resultando em uma descarga atmosférica. De acordo com o ELAT, “a expansão das áreas urbanas e o aumento da poluição – fenômeno conhecido como ‘ilha de calor’ – também têm contribuído para uma maior incidência de raios em cidades densamente povoadas, como Brasília”, afirmam.
O coordenador do ELAT/INPE, Osmar Pinto Jr., explica que a intensa ocorrência de raios no Distrito Federal se deve a alguns fatores específicos. “A localização geográfica do DF faz com que a região se torne uma área de passagem de tempestades originadas na Amazônia, que se deslocam em direção ao Sudeste. Além disso, as altas temperaturas contribuem para a formação de tempestades intensas, criando condições ideais para o aumento das descargas elétricas atmosféricas”, aponta.
Relembre
Em meio a tempestades sazonais, registros de ocorrências envolvendo descargas elétricas atingem tanto áreas residenciais quanto pontos de grande circulação, evidenciando a força desse fenômeno natural e a necessidade de cuidados em períodos de alta incidência. Relembre alguns casos.
– Dezembro de 2022: em 18/12/2022, por volta das 13h50, quatro pessoas que estavam no acampamento de manifestantes bolsonaristas na Praça dos Cristais foram atingidas por uma descarga elétrica após um raio cair na tenda onde estavam. Chovia no momento. Os bombeiros socorreram as vítimas na Avenida do Exército, Setor Militar Urbano (SMU). Apenas uma mulher de 45 anos precisou ser levada ao hospital, apresentando dormência nas pernas, queimação no braço direito, hipertensão e sinais vitais alterados. Ela foi encaminhada ao Hospital de Base de Brasília, consciente e estável.
– Dezembro de 2023: em 19/12/2023, um homem de 43 anos foi levado ao hospital após ser atingido por um raio no assentamento Nova Jerusalém, em Samambaia, no Distrito Federal. Ele estava fechando o portão de casa quando um raio caiu próximo e o afetou indiretamente. Encontrado consciente, desorientado e com hipertensão, ele foi socorrido pelos bombeiros e encaminhado ao hospital. Chovia no momento do incidente.
– Novembro de 2024: em 06/11/2024, um raio atingiu os trilhos da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF), afetando a circulação do transporte na região do Guará. A descarga elétrica atingiu o terceiro trilho – utilizado para movimentação dos trens – e provocou fumaça em um dos vagões na estação Guará. Ninguém se feriu no incidente, mas o serviço foi temporariamente interrompido devido à forte chuva e à ocorrência de raios na área.
Com informações: Correio Braziliense