Centros de línguas ampliam horizontes e caminhos profissionais de alunos da rede pública e das comunidades
Mais de 57 mil pessoas foram matriculadas nos 17 CILs do DF no primeiro semestre deste ano, tendo a chance de mergulhar em novas culturas e aprender inglês, espanhol, francês, japonês e alemão com professores proficientes
Há sonhos que só o contato com outras culturas e modos de viver são capazes de despertar. Ao estudar japonês no Centro Interescolar de Línguas (CIL) de São Sebastião, a estudante Maria Luisa Vieira, 17 anos, descobriu a vontade de conhecer o continente asiático e teve a certeza de que deseja trabalhar com relações internacionais. “Hoje, o japonês não é só um hobby, mas algo que quero manter até alcançar a fluência”, conta.
A rede de ensino pública do Distrito Federal possui 17 centros interescolares de línguas, dos quais quatro foram inaugurados pelo Governo do Distrito Federal (GDF) desde 2019. No primeiro semestre deste ano, mais de 57 mil estudantes foram matriculados nas unidades, ganhando a oportunidade de aprender inglês, espanhol, francês, japonês e alemão com 500 professores proficientes nas línguas. Do total de alunos, cerca de 14 mil são da comunidade.
“O japonês me fez ter mais disciplina nos estudos, porque não é um idioma fácil e que se vê no dia a dia. E a metodologia do curso é muito agradável, fez com que estudar uma nova língua não se tornasse um fardo”, avalia. Questionada sobre o nível atual de conhecimento, Maria Luisa brinca: “[Se eu fosse para o Japão], acho que fome não passaria”. A turma dela começou em 2022, quando o curso passou a ser ofertado na unidade de ensino.
Integrante de uma turma iniciada neste ano, o estudante Luiz Fernando Muniz Cavalcante, 14, revela que nunca tinha desejado estudar japonês até ser selecionado para a vaga no CIL São Sebastião. A oportunidade foi abraçada e, segundo ele, será proveitosa no âmbito profissional. “A minha preferência era inglês ou espanhol, mas aí veio a oportunidade do japonês, e eu quis aproveitar. A gente aprende muito sobre a cultura do Japão, é tudo bem descontraído, e os professores são ótimos”, conta. “Como eu quero trabalhar com tecnologia da informação, falar o idioma pode me ajudar muito”.
Já a estudante Natália Santini, 13, sempre esteve imersa na cultura japonesa, com o consumo de animes, e aproveita as aulas para colocar os dons artísticos em ação, produzindo desenhos e origamis para decorar a sala de aula. “Meu sonho é ser professora de arte, de preferência em uma universidade, e passar um tempo no Japão. Gosto muito da cultura de lá”, conta ela, que se dedica aos estudos diariamente. “Minha maior dificuldade é a pronúncia, porque eu travo na hora de falar, mas a minha maior facilidade é a escrita”.
Maria Luiza, Natália e Luiz aprendem o beabá japonês com o professor Dennis Henrique Alves. Ele conta que recebe estudantes com diferentes níveis de interesse e conhecimento da língua; e, para abranger todos, utiliza de quizzes que incentivam a curiosidade e investe na imersão cultural. “A maioria dos nossos alunos já escutaram japonês em animes e até entram por causa disso, mas temos alguns que nunca viram nada sobre o idioma. Então é preciso alfabetizar os alunos, começando com os alfabetos básicos, que são o hiragana e o katakana, que são fonéticos, e depois vamos para os kanjis e os ideogramas”, explica.
O professor revela que, após se familiarizarem com a língua, os estudantes passam a pensar nas possibilidades que o japonês pode oferecer. “Nas primeiras aulas, mostro como o japonês pode ser útil para eles, independentemente da idade. Existem bolsas de estudo, parcerias com a Embaixada do Japão, que hoje é a quarta maior economia do mundo”, observa ele, que se considera apaixonado pelo idioma asiático. “Estou dentro do espectro autista, e o Japão foi um hiperfoco para mim desde pequeno. Estudo desde os 12 anos, e foi o que virou a minha profissão, eu amo estar em sala de aula”.
As inscrições dos centros interescolares de línguas são realizadas no primeiro e no segundo semestre de cada ano e todo o processo é feito online. Os alunos da rede pública do DF têm prioridade nas vagas, mas as remanescentes são abertas à comunidade
O gerente de Educação Ambiental, Patrimonial, de Línguas Estrangeiras e Arte-Educação da Secretaria de Educação (SEEDF), Hamilton Cavalcante Martins, explica que as unidades têm autonomia para desenvolver projetos que incentivem ainda mais o contato dos estudantes com outras culturas, seguindo as diretrizes estabelecidas pela pasta. “O acesso a outra língua, a uma nova cultura, fortalece o aprendizado do estudante no ensino regular e traz novas perspectivas profissionais”, pontua.
Expansão da oferta
Em 14 de janeiro de 1975, nascia o primeiro espaço de estudo de línguas estrangeiras dedicado à rede pública de ensino do Distrito Federal: o Centro Interescolar de Línguas 1 de Brasília. Dez anos depois, surgia o CIL de Ceilândia, seguido pelo de Taguatinga (1986) e os do Gama e Sobradinho (1987). A partir de 1995, foi criada a segunda unidade de Brasília e a primeira do Guará, Brazlândia, Planaltina, Recanto das Emas, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Samambaia e Santa Maria.
O governo Ibaneis Rocha inaugurou mais quatro unidades, com estruturas amplas e adequadas para promover o ensino de qualidade aos discentes. Em 2020, as unidades do Riacho Fundo, do Riacho Fundo II e de Planaltina abriram as portas, e, em 2021, a de São Sebastião. Além disso, o GDF proporcionou o aumento no número de cadeiras disponíveis em cada centro. Em 2019, eram atendidos 45,4 mil alunos, enquanto no primeiro semestre deste ano mais de 57 mil puderam ingressar em algum curso.
Em entrevista ao GDF de Ponto a Ponto, podcast da Agência Brasília, a secretária de Educação, Hélvia Paranaguá, destacou os esforços do Executivo para ampliar o número de alunos atendidos, a oferta de idiomas e as parcerias com entidades internacionais. Segundo a gestora, atualmente o GDF estuda a possibilidade de incluir o mandarim na lista de idiomas disponíveis nos CILs em parceria com as embaixadas da China e de Taiwan.
“A gente tinha só inglês e espanhol. Depois entraram francês, japonês, alemão. Estamos querendo trazer o mandarim. É uma oportunidade muito boa. Já ampliamos bastante e queremos ampliar mais”, afirmou Paranaguá durante o bate-papo, realizado em agosto. “O CIL é uma referência para o país. O ensino da língua estrangeira é muito mais forte, com professores com uma proficiência muito forte, para fazer com que o aluno também saia com proficiência e fluência.”
Participe
As inscrições dos centros interescolares de línguas são realizadas no primeiro e no segundo semestre de cada ano e todo o processo é feito online. Os alunos da rede pública do DF têm prioridade nas vagas, mas as remanescentes são abertas à comunidade. Os períodos de inscrição e prazos de matrícula são divulgados no site da Secretaria de Educação.
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Fato Novo com informações e imagens: Agência Brasília