Dados da caixa-preta do avião que caiu em Vinhedo estão 100% preservados
Equipamentos que gravam conversas da cabine e informações do sistema do avião acidentado estão íntegros, diz Cenipa
Um passo importante na investigação sobre o que levou o avião modelo ATR-72, da Voepass, a cair no município de Vinhedo (SP), há três dias, foi dado neste domingo (11/8). A Força Aérea Brasileira, por meio do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), conseguiu extrair todos os arquivos de áudio e de dados do avião armazenados nas duas caixas pretas do voo 2238.
O brigadeiro-do-ar Marcelo Moreno, chefe do Cenipa, foi quem repassou a informação, em entrevista coletiva. O anúncio foi feito em frente ao Condomínio Residencial Recanto Florido, onde a aeronave caiu, no início da tarde da última sexta-feira.
“Existem duas caixas-pretas e, nesta manhã (ontem), temos a informação de que conseguimos 100% de sucesso para obter as informações de voz e informações de dados que correspondem aos momentos que antecederam esse trágico evento para a sociedade”, disse Moreno.
As equipes já concluíram que tanto o piloto Danilo Santos Romano quanto o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva, que morreram na tragédia, não informaram nenhuma emergência aos órgãos de controle de tráfego aéreo. A aeronave da Voepass deixou Cascavel (PR) às 11h46 do último dia 9, mas, por volta das 13h21, o sinal de GPS foi perdido, momentos antes da queda no condomínio residencial.
Na noite de ontem, os motores do avião foram retirados e encaminhados ao Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa IV), em São Paulo, onde ficarão armazenados, inicialmente. O serviço é uma unidade militar da Força Aérea e está subordinada ao Cenipa. Na capital paulista serão realizadas averiguações técnicas no equipamento para investigar se havia, ou não, algum problema mecânico ou alguma irregularidade.
O trabalho foi conduzido pelo Cenipa com o auxílio de técnicos e autoridades franceses e canadenses, que chegaram neste fim de semana ao Brasil. Da França, vieram representantes da Agência de Investigações e Análises para a Segurança da Aviação Civil (BEA), responsável pela fiscalização das aeronaves ATR-72 fabricadas no país europeu. Do Canadá, estão em Vinhedo especialistas da empresa Transportation Safety Board (TSB), fabricante dos motores, que participaram do trabalho de remoção e traslado dos motores.
“Seguindo protocolos internacionais dos quais o Brasil é signatário temos o dever de convidar o país responsável pelo projeto e fabricação da aeronave para a investigação, o que trouxe para cá também os técnicos da ATR, empresa fabricante, que estão interagindo com nossa investigação”, explicou Moreno.
Air France
A BEA foi responsável por conduzir as investigações sobre as causas daquele que, ainda, é considerado o maior acidente aéreo em território brasileiro. Em junho de 2009, um Airbus A330-200 da companhia francesa Air France caiu no Oceano Atlântico, em um voo que saiu do Rio de Janeiro com destino a Paris. Ao todo, 228 pessoas morreram na tragédia, que, de acordo com a agência francesa, foi ocasionada pelo mau funcionamento de um pilot (sensor de temperatura externa). Por causa do problema, o sistema de descongelamento (anti-ice) das asas da aeronave não foi acionado.
Sobre a retirada do ATR-72 do local do acidente, o Código Brasileiro de Aeronáutica (CBA) e a Norma do Sistema do Comando da Aeronáutica (NSCA) preveem que ela deve ser feita pela exploradora da aeronave, que, no caso, é a companhia aérea Voepass. Apesar disso, a empresa só pode iniciar este trabalho no momento em que os agentes encarregados pelas várias frentes de investigação investigação — o Cenipa, as polícias Civil, Militar e Federal, além da Defesa Civil — liberarem o perímetro do local.
A Força Aérea informou que “será de responsabilidade do explorador da aeronave providenciar e custear a higienização do local, dos bens e dos destroços, de modo a evitar prejuízos à natureza, à segurança, à saúde, ou à propriedade de outrem ou da coletividade”.
Um inquérito policial foi instaurado pela Delegacia de Vinhedo para investigar as causas que levaram ao acidente aéreo na cidade, que deixou 62 mortos. Desde sábado, a Secretaria da Administração Penitenciária do município auxilia na preservação do perímetro do acidente com equipamentos antidrone, que têm como objetivo interceptar esses aparelhos aéreos comandados à distância e que não foram autorizados a sobrevoar a região.
Liberações
Até o fim da tarde de ontem, a Secretaria de Comunicação do Estado de São Paulo (Secom-SP) confirmou que 12 corpos haviam sido identificados pelas equipes da unidade central do IML, na capital paulista. Desse total, apenas um corpo havia sido liberado para as famílias, até o fechamento desta edição. O instituto previa que, até a madrugada de hoje, seriam liberadas mais sete vítimas.
“As famílias são as primeiras a serem comunicadas sobre o avanço dos trabalhos de reconhecimento”, informou, em nota, a Secom-SP. Mais de 40 famílias foram acolhidas no auditório do Instituto Oscar Freire, ao lado do IML, onde prestaram informações para auxiliar os técnicos do instituto no reconhecimento das vítimas.
De acordo com o governo paulista, parentes diretos ainda forneceram material biológico e deixaram contatos para posterior comunicação da identificação. A unidade central do IML na capital paulista atua exclusivamente neste caso, até o fim das investigações. Além disso, 17 parentes foram atendidos em Cascavel, de onde decolou o voo 2283. A documentação enviada por essas famílias chegou ontem mesmo em Guarulhos (SP), levadas por dois peritos que estavam na cidade paranaense.