Levantamento revela que anta não está extinta na Caatinga

Levantamento revela que anta não está extinta na Caatinga

Espécie não era avistada no bioma havia pelo menos 30 anos. Descoberta vai subsidiar mudanças na avaliação do status de conservação do animal

Por cerca de três décadas, os habitantes da Caatinga e pesquisadores tiveram de conviver com a incerteza sobre a presença da anta, o maior mamífero terrestre do Brasil, neste bioma unicamente brasileiro. Oficialmente, a espécie era considerada extinta. Relatos de moradores e vestígios de sua presença, no entanto, colocavam em questão o status. Agora não restam dúvidas: o animal ainda pode ser encontrado por lá.

A descoberta, revelada nesta sexta-feira (19), foi possível após a realização de duas expedições conduzidas por uma equipe multidisciplinar que partiu à procura de respostas.

A primeira expedição aconteceu entre fevereiro e março do último ano. Na ocasião, foram percorridos 10 mil km, em busca de registros e vestígios históricos e atuais da anta no bioma. Apesar de terem conseguido comprovar que a espécie esteve presente na Caatinga, algumas dúvidas ainda restaram.

Por isso, a equipe saiu novamente a campo nos primeiros meses de 2024 e percorreu mais 6 mil km na região oeste da Bahia e no entorno do Parque Nacional da Serra das Confusões, no Piauí.

Nesta segunda expedição, a presença atual da anta (Tapirus terrestris), com avistamentos feitos pela própria equipe e relatos históricos de moradores, foi confirmada.

“A importância dessa descoberta está no fato de que uma extinção local, para qualquer espécie, é uma situação muito séria. Declínios populacionais e extinções locais apontam para o comprometimento e depauperação do estado de conservação de uma dada espécie. Agora, com base nesta última expedição, temos dados robustos o suficiente para afirmar que a anta não se extinguiu na Caatinga”, diz Patrícia Médici, que é pesquisadora, cientista e coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, do Instituto de Pesquisas Ecológicas (INCAB-IPÊ).

Status de Conservação

Para Médici, a recente descoberta pode subsidiar futuras avaliações sobre o estado de conservação da anta em nível nacional e global.

“O que a gente tinha antes eram informações anedóticas por parte de alguns pesquisadores muito experientes que trabalham na Caatinga, que escutavam os locais falando sobre o passado desse animal ali na região e uma ou outra informação sobre a presença atual. Tudo muito esparso, pouquíssima informação. Agora nós temos dados, temos localizações dos sites onde a presença do animal foi detectada”, explicou a pesquisadora, a ((o))eco.

Além da confirmação da presença, a equipe da INCAB-IPÊ identificou as principais ameaças à sobrevivência da anta na região, sendo a caça, fogo, perda de habitat para a expansão do agronegócio e a desertificação do bioma como as principais delas.

Segundo Médici, o próximo passo será se debruçar sobre esses dados, que serão úteis para a próxima avaliação da Lista Vermelha do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e para a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Pegadas identificadas na Caatinga, durante expedição realizada no início de 2024. Foto: INCAB/IPÊ

Além disso, essas informações serão utilizadas no desenvolvimento do próximo Plano de Ação Nacional (PAN) para os Ungulados Ameaçados de

Extinção, previsto para entrar numa nova fase este ano.

Ainda não se sabe qual será o novo status que a espécie vai receber nesta lista, mas, de acordo com Médici, ela certamente deixará de ser considerada extinta na Caatinga.

“Enquanto esse momento não chega [de definição de um novo status] a gente vai continuar coletando dados”, diz Patrícia Medici, que se prepara para mais uma expedição ao bioma, prevista para acontecer em agosto.

Anta brasileira

Tapirus terrestris é o maior mamífero terrestre do Brasil, com ocorrência em cinco dos seis biomas brasileiros. Com tamanha distribuição geográfica, a anta brasileira também está suscetível a diversas ameaças e pressões, como caça ilegal, atropelamentos em rodovias e perda e fragmentação de habitat provocados por incêndios, ocupação humana, expansão agropecuária e de centros urbanos.

Em cada um dos biomas em que ela ocorre, a anta tem um status de conservação, definido em função da redução populacional ocorrida no passado e projetada para o futuro. Apenas na Amazônia, no entanto, o número de indivíduos ainda não é preocupante.

Tapirus terrestris é considerada “em perigo” no Cerrado e Mata Atlântica e “quase ameaçada” no Pantanal. Na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), a anta brasileira é classificada como vulnerável à extinção.

Apesar de conviver com um problema de relações públicas bem grande no Brasil, a anta é essencial para a conservação dos biomas em que vive. Ela é considerada a “jardineira das florestas”, devido à sua capacidade de dispersar sementes e otimizar a germinação das mesmas sob a ação de seu trato digestivo.


Fato Novo com informações: Eco Jornalismo

Geraldo Naves

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