Morre Zé João, pioneiro que ajudou a construir Brasília e o Correio

Morre Zé João, pioneiro que ajudou a construir Brasília e o Correio

Aos 89 anos, José João deixa um legado imensurável e imaterial para os moradores de Brasília

José João Rodrigues, conhecido como Zé João, morreu nessa terça-feira (23/4), aos 89 anos. Pioneiro na construção de Brasília, Zé João ajudou também a colocar em pé o Correio Braziliense, onde trabalharia — e até moraria.

Zé João é natural de Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais. Como pedreiro, trabalhou para Assis Chateaubriand na construção do Correio e também na instalação da rede de televisão TV Brasília. Até Ari Cunha, fundador do jornal, reconheceu a importância do trabalho de Zé João, em 1976: “Desde o primeiro tijolo, estava José João, até hoje nosso companheiro. Era ele quem acompanhava tudo da obra”.

José João Correio Braziliense
José João Correio BrazilienseEd Alves/CB

Zé João tinha conhecimentos na área de instalações como ninguém. Com o jornal pronto, o homem trabalhou no Correio na área de manutenção. Era respeitado por todos, inclusive pela diretoria do jornal. “Era ele que tomava conta de tudo. Se algo desse errado, chamávamos o Zé João para ajudar”, lembra Possidônio Meirelles, superintendente de Manutenção e Logística do jornal.

Candango raiz, Brasília se tornou para Zé João a casa que ajudou a construir. Aqui se casou e teve um filho. Por muitos anos, morou com sua família em uma casa abaixo do 1ª andar do Correio Braziliense. “Ele tomava conta do jornal nas madrugadas, em que poderia acontecer algum problema técnico. Qualquer coisa, ele estava pertinho para consertar”, explica Possidônio.

Emocionada, a segunda esposa de Zé, Maria de Socorro, 60, relembra a personalidade simples e carinhosa do marido. “João era a pessoa mais humilde da face da Terra. Todo mundo gostava dele”, concluiu.

Silvia Valladares, 81, viúva do jornalista Jairo Villadares, que por muitos anos foi diretor da TV Brasília e um grande amigo de Zé João, conta que o falecido esposo e ele trabalharam muito em conjunto. “Me lembro dele como uma pessoa que Jairo gostava muito, foi o braço direito da construção da TV Brasília, um homem eficiente, responsável e dedicado em tudo que fazia”, disse com a voz embargada.

Pedra fundamental
Em 16 de fevereiro de 2016, Marcelo Abreu escreveu uma reportagem especial sobre José João para o Correio
Em 16 de fevereiro de 2016, Marcelo Abreu escreveu uma reportagem especial sobre José João para o Correio(foto: Cdoc/Arquivo)

A última vez em que visitou o antigo ambiente de trabalho (e lar) foi há 4 anos, em fevereiro de 2020. Na ocasião, ele se lembrava com lucidez dos episódios que compartilhava com outros companheiros candangos, como a luta para deixar uma parede em pé em 1960. “A gente construía, vinha a chuva e derrubava tudo. A primeira parede em pé foi motivo de muita alegria”, contou.

Em 16 de fevereiro de 2020, o Correio narrou a trajetória de José com uma matéria especial de Marcelo Abreu. “José João escreveu, mesmo que nem soubesse exatamente àquela época, a história de um jornal e da própria capital que se iniciava. O único jornal no mundo que nasceu no mesmo dia do nascimento de uma cidade. José João estava aqui. Viu tudo. Foi à Esplanada, segurando seu chapéu surrado. Não ficou em camarote. Não recebeu homenagens. Juntou-se aos milhares de peões de obra que se acotovelaram para ver a cidade nascer. Tudo era um assombro”, escreve o jornalista.

Simples, tanto que mal sabia ler e escrever, José João deixa um legado imensurável e imaterial para os moradores de Brasília. Com a ajuda dele se ergueu a cidade em que hoje os brasilienses vivem e amam, e também o jornal mais antigo da cidade.


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Fato Novo com informações: Correio Braziliense

Geraldo Naves

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