O bom orador é aquele que sabe quebrar regras
Se você tiver dificuldade para usar determinada regra de comunicação, tenha certeza de que ou ela não é boa ou não é adequada ao seu estilo de orador. Regra boa é aquela que você adota naturalmente, com a mesma leveza e descontração com que se comporta ao conversar com as pessoas mais queridas.
O que mais encontramos são pessoas querendo determinar os caminhos que devemos seguir. Não faça isso! Você precisa agir assim! Essa conduta está errada! Essa sim é que está certa! E assim, a todo momento, seguem com os conselhos de não pode, não deve, está certo, está errado.
Desconfie dos conselhos
Desconfie sempre daqueles que se mostram “especialistas irredutíveis” em comunicação. Lembre-se de que o errado em determinada pessoa, pode ser o certo em outra numa situação distinta. Tudo irá depender da circunstância, do contexto, da característica e do estilo do orador.
Não é porque a regra diz, por exemplo, que o orador deve evitar falar com os braços nas costas ou com as mãos nos bolsos que essa atitude será sempre negativa. Há momentos em que poderá ser até uma postura recomendável.
O errado pode estar certo
Em certas ocasiões, deixar os braços nas costas, pode ser demonstração de respeito, de consideração. Pôr a mão no bolso por pouco tempo de forma natural, se caracteriza, às vezes, como conduta elegante e até segura.
Temos de levar em conta também que os oradores traquejados, acostumados a enfrentar os mais diferentes tipos de plateias e de desafios, se sentem à vontade para quebrar determinadas regras. Avaliam os prós e contras. Analisam as consequências de sua inciativa. E ao sentirem que poderão ter mais sucesso se afastando das normas estabelecidas, vão em frente.
Só com muita experiência
Ninguém deve ser irresponsável e desconsiderar todas as regras da arte de falar em público. Elas existem exatamente porque mostraram ser eficientes. Se alguém me diz: professor, não sei como fazer essa apresentação. Sem hesitar, respondo: siga essas regras que vai se sair bem. Se, por outro lado, a pessoa me diz: eu sei falar em público, mas gostaria de agir de maneira diferente daquela determinada pela regra.
Nesse caso, sei que, provavelmente, estou diante de um bom orador. É quase certo que a partir desse comportamento “irreverente” surgirá a comunicação de boa qualidade. São aquelas situações em que a pessoa já tem o domínio das regras e se sente confortável para fazer mudanças.
Os prós e contras
Se com essa segurança, depois de pesar os prós e contras, avaliar bem as consequências, o orador concluiu que seu desempenho será mais eficiente se afastando das regras, terá todo o meu apoio para seguir em frente. Apesar que a minha opinião será apenas mais um ponto para a reflexão.
Alerto para o fato de que, se ele tiver sucesso, receberá os louros. Será aplaudido, ovacionado, admirado. Terá a recompensa por ter ousado sair do lugar comum. Se, entretanto, ao contrário, não agradar, terá de carregar sozinho o peso do fracasso.
Por isso, agir fora dos padrões das regras deve ser uma decisão apenas de quem irá se apresentar diante do público. De ninguém mais.
Os planos alternativos
Os grandes oradores são aqueles que já percorreram a longa estrada da comunicação. Experimentaram vitórias e derrotas. Aprenderam a superar os desafios e os obstáculos que se escondem sorrateiros por trás de cada apresentação. Estão preparados para contornar esses inconvenientes. Por isso, podem ousar.
Na verdade, o risco é quase nulo para eles. Antes de tomar um rumo diferente daquele ditado pelas regras, já ponderaram os percalços que poderiam enfrentar e sabem exatamente como agir em cada circunstância.
As piadas podem não ter graça
Se, por exemplo, iniciar uma apresentação contando piadas. Ele sabe do risco que estará correndo, pois se os ouvintes não acharem graça, poderá se desestabilizar diante do público já no começo. Um orador experiente jamais será apanhado de surpresa em uma ocasião como essa.
Ele estará munido de um plano alternativo para driblar esse inconveniente. Poderá criticar a própria piada ou a sua forma desastrada de se apresentar. Muitos se lembram de que Jô Soares começava lendo no teleprompter uma piada. Em algumas situações a piada não tinha graça.
Contornando os inconvenientes
Em vez de ficar desconcertado, ele fazia uma autogozação: mas essa piada é muito ruim mesmo. Ou, não sei porque contei essa se não tem nenhuma graça?! Em todos os casos, a plateia ria mais do seu comentário que da piada.
Portanto, fique à vontade para quebrar todas as regras que desejar. Saiba, todavia, que a responsabilidade será sempre sua. Se der certo, aproveite e curta o sucesso. Se der errado, procure enfrentar da melhor maneira que puder. Boa sorte.