Saúde: como os contraceptivos afetam o cérebro

Saúde: como os contraceptivos afetam o cérebro

Uma pesquisadora escaneou seu próprio cérebro durante meses para descobrir como o órgão reage à ingestão de contraceptivos

A saúde feminina continua a ser uma área “cronicamente pouco estudada” da ciência, de acordo com Carina Heller, da Universidade Friedrich Schiller, na Alemanha.

No seu pós-doutorado, Heller se dedicou a projetos sobre os efeitos dos hormônios sexuais femininos e da ingestão de contraceptivos no cérebro humano.

Um dos experimentos realizados por ela foi feito consigo mesma como ‘cobaia’. Ao longo de meses, Heller estudou padrões de comportamento cerebral no seu próprio cérebrocom e sem o uso de medicação contraceptiva oral, para entender como essa espécie de droga pode afetar o comportamento cerebral.

Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Nature e sugerem que a morfologia do cérebro e as mudanças experimentadas pelo órgão diariamente durante todo o ciclo menstrual são influenciadas pelas pílulas de controle de natalidade.

Como funcionou o experimento

Para catalogar as mudanças cerebrais durante o ciclo menstrual com e sem os contraceptivos, Heller escaneou seu próprio cérebro 25 vezes ao longo de cinco semanas, inicialmente capturando imagens do cérebro sem a ação hormonal dos contraceptivos.

Os contraceptivos orais contêm versões sintéticas de dois hormônios naturalmente produzidos pelo corpo: a progesterona e o estrogênio.

Além de prevenir a liberação dos óvulos e, assim, prevenir a gravidez, os hormônios têm ações sobre o organismo de forma geral, e podem alterar padrões de temperamento, provocar reações físicas (como inchaço ou dor de cabeça) e gerar efeitos de longo prazo (com o desenvolvimento de quadros de saúde).

“Décadas de estudo afirmam que eles são geralmente seguros”, diz a Nature, “mas os efeitos no cérebro permanecem não estudados”.

Após alguns meses dos primeiros 25 scans iniciais, Heller começou a tomar contraceptivos orais. Três meses depois, ela realizou outros 25 exames por um período de mais cinco semanas, além de fazer testes sanguíneos e de catalogar alterações de humor após cada um dos scans.

Os resultados

Ao fim do ciclo de exames, Heller descobriu um ritmo padronizado de mudanças no volume e na conectividade cerebrais entre diferentes regiões do cérebro.

Ao longo do ciclo menstrual, o volume das conexões era maior, estimulando mais áreas; e, quando passou a ingerir os contraceptivos, notou que esse volume e a intensidade das conexões passavam por uma pequena diminuição.

Além de observar a redução desses parâmetros, Heller fez outra descoberta interessante: o cérebro tem uma grande capacidade adaptativa.

Durante os períodos em que não ingeriu contraceptivo, seguidos de períodos de ingestão diária, o cérebro voltou rapidamente ao seu padrão normal de atividade, demonstrando ser bastante adaptável. É importante notar que maior volume cerebral ou conectividade não implicam diretamente em funções cerebrais melhoradas ou pioradas.

Essa autoexperimentação permitiu “um maior insight sobre o cérebro humano”, de acordo com Emily Jacobs, neurocientista da Universidade de Califórnia com quem Heller trabalhou.


Fonte: Revista Fórum

Geraldo Naves

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