Como funcionou o experimento
Para catalogar as mudanças cerebrais durante o ciclo menstrual com e sem os contraceptivos, Heller escaneou seu próprio cérebro 25 vezes ao longo de cinco semanas, inicialmente capturando imagens do cérebro sem a ação hormonal dos contraceptivos.
Os contraceptivos orais contêm versões sintéticas de dois hormônios naturalmente produzidos pelo corpo: a progesterona e o estrogênio.
Além de prevenir a liberação dos óvulos e, assim, prevenir a gravidez, os hormônios têm ações sobre o organismo de forma geral, e podem alterar padrões de temperamento, provocar reações físicas (como inchaço ou dor de cabeça) e gerar efeitos de longo prazo (com o desenvolvimento de quadros de saúde).
“Décadas de estudo afirmam que eles são geralmente seguros”, diz a Nature, “mas os efeitos no cérebro permanecem não estudados”.
Após alguns meses dos primeiros 25 scans iniciais, Heller começou a tomar contraceptivos orais. Três meses depois, ela realizou outros 25 exames por um período de mais cinco semanas, além de fazer testes sanguíneos e de catalogar alterações de humor após cada um dos scans.
Os resultados
Ao fim do ciclo de exames, Heller descobriu um ritmo padronizado de mudanças no volume e na conectividade cerebrais entre diferentes regiões do cérebro.
Ao longo do ciclo menstrual, o volume das conexões era maior, estimulando mais áreas; e, quando passou a ingerir os contraceptivos, notou que esse volume e a intensidade das conexões passavam por uma pequena diminuição.
Além de observar a redução desses parâmetros, Heller fez outra descoberta interessante: o cérebro tem uma grande capacidade adaptativa.
Durante os períodos em que não ingeriu contraceptivo, seguidos de períodos de ingestão diária, o cérebro voltou rapidamente ao seu padrão normal de atividade, demonstrando ser bastante adaptável. É importante notar que maior volume cerebral ou conectividade não implicam diretamente em funções cerebrais melhoradas ou pioradas.
Essa autoexperimentação permitiu “um maior insight sobre o cérebro humano”, de acordo com Emily Jacobs, neurocientista da Universidade de Califórnia com quem Heller trabalhou.
Fonte: Revista Fórum