um recorte para o suicídio de policiais
Desde o ano de 2003, por iniciativa da Associação Internacional para a Prevenção ao Suicídio –IASP, apoiado pela Organização Mundial da Saúde – OMS, o dia 10 de setembro é considerado o “Dia Mundial da Prevenção do Suicídio”. Levando-se em conta a data e visando promover a discussão e orientação acerca deste mal de ordem global, foi criado no Brasil, por intermédio da Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP e do Conselho Federal de Medicina –CRM, o chamado “Setembro Amarelo”, que consiste em uma campanha nacional de prevenção ao suicídio.
A necessidade da campanha “Setembro Amarelo” encontra justificativa em dados da OMS, que revela, excluindo-se os casos de subnotificação, que cerca de 700 mil pessoas morrem por ano em razão de suicídio. Ainda segundo a Organização, tendo por base os anos entre 2000 e 2019, embora tenha havido uma redução de 36% no número de suicídios em termos globais, nas Américas houve um aumento de 17% e, mais especificamente, no Brasil, um aumento de 43%.
Significa dizer, que segundo dados da OMS, agregados a informações da ABP e da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, no Brasil temos por volta de 14 mil casos de suicídio por ano, equivalendo a cerca de 38 casos por dia; o que colocaria o Brasil no lamentável ranking de 8º colocado entre os países que registram mais mortes em decorrência de suicídio no Mundo.
Neste contexto, considerando a relevância e gravidade do tema, é importante fazer referência ao suicídio no meio policial, uma realidade quase invisível para a maioria das pessoas e governantes. Isso porque muito se fala muito sobre letalidade policial, mortes em confrontos, violência policial, mas nunca ou quase nunca, sobre as causas que levam um policial a atentar contra a própria vida.
Dados obtidos no “Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024” indicam que o índice de suicídio cometidos por policiais (civis e militares) cresceu 26,2% no ano de 2023 em relação ao período anterior.
A taxa de mortes entre policiais apresentada pelo Anuário coloca o suicídio como a principal causa das mortes de policiais brasileiros, superando, inclusive, os casos de morte em confronto. Consta-se que o suicídio praticado por policiais é cerca de oito vezes maior do que em relação a população comum.
O panorama apresentado pelo Anuário constitui verdadeiro alerta para população e governantes, no mínimo amarelo, quiçá laranja, ao passo que demonstra de forma inequívoca a existência de graves problemas nas corporações brasileiras; cujos policiais, que devem ou deveriam combater o crime e zelar pelo bem comum, estão tendo, em larga escala, conflitos emocionais de tal grandeza, que têm resultado em alarmante número de suicídios.
Embora o tema seja reiteradamente desconsiderado, o fato é que os policias lidam diuturnamente com o pior do ser humano e da sociedade. Enfrentam todos os tipos de mazelas, sobrecarga, extrema violência, agressividade, carga horária insalubre, condições adversas de trabalho, além de viverem expostos a constantes e severos julgamentos e cobranças, seja por parte da sociedade, da mídia ou dos superiores hierárquicos. Agregam-se, ainda, às circunstâncias mencionadas, na maioria das vezes, baixos salários e condições precárias de serviço, o que invariavelmente acarreta alto nível de estresse.
Mas não é só, o mito do policial herói, àquele capaz de intervir em qualquer situação de crise, o homem ou mulher que não chora, só luta e defende, o provedor familiar capaz de solucionar qualquer problema, tem o condão de criar sentimentos de autoexigência e frustação que a maioria das pessoas são incapazes de imaginar.
Que este “Setembro Amarelo” sirva para que o suicídio no meio policial deixe de ser invisível. Que os dados apresentados façam com que sociedade e Poder Público consigam olhar para os policiais brasileiros com olhos de ver e, desse modo, perceber, que o protetor, para proteger, às vezes, precisa de proteção!