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Quadrilha de Capitão Guimarães tinha acordo com polícia para prender ‘laranjas’ por envolvimento com jogo do bicho

Quadrilha de Capitão Guimarães tinha acordo com polícia para prender ‘laranjas’ por envolvimento com jogo do bicho

Pacto tinha como objetivo gerar boletins de ocorrências sobre a prática criminosa e criar uma falsa sensação de combate ao negócio

Na última sexta-feira, a Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público do estado, cumpriu um mandado de prisão contra o bicheiro Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, um dos principais contraventores do Rio. A operação prendeu 13 pessoas envolvidas no negócio, sendo 10 alvos dos mandados de prisão e três em flagrante. Na denúncia, o MPRJ destaca que a participação de agentes de segurança corruptos constitui uma peça fundamenta no funcionamento do negócio com jogos de azar e exploração de bingos clandestinos do grupo. A partir do depoimento de um ex-integrante da organização criminosa, os investigadores descobriram que a quadrilha tinha um acordo com policiais civis para fraudar dados de prisões ligadas ao jogo do bicho na Ilha do Governador, na Zona Norte.
Em depoimento, o ex-integrante contou que a quadrilha pagava pessoas para serem apresentadas na Delegacia como apontadores do jogo do bicho. A intenção, segundo ele, era gerar boletins de ocorrências sobre a prática criminosa e criar uma falsa sensação de combate ao negócio.

De acordo ele, o grupo pagava entre R$200 e R$500 reais para que o “laranja” fosse apresentado na delegacia como envolvido no jogo do bicho. Segundo o depoimento, eles usavam cada uma dessas pessoas por pelo menos duas vezes. Quando chegava na terceira, ela era descartada e substituída por outra, para não gerar “um problema maior”.

No relato, ele diz que os policiais corruptos cobravam Mario Octávio Moraes, apontado como gerente núcleo de exploração de jogos do bicho da Ilha do Governador, para que houvesse registros. Ele explica que o motivo da cobrança era “porque ia ficar estranho não ter ocorrência do jogo do bicho na Ilha do Governador”. Por isso, Mário e Jorge Antonio dos Santos, vulgo “Jorjão”, pagavam agentes e contratavam “laranjas” para acobertar o esquema. Rodrigo de Paiva Sousa, que assumiu a função de gerente após a morte de Mário, no dia 5 de julho, também participava das contratações, segundo depoimento.
A denúncia do MP também aponta que os policiais violavam o sigilo funcional para levantar informações de interesse da quadrilha, levantando dados sobre criminosos rivais e pessoas que constavam no planejamento para serem vítimas do grupo. Para o MPRJ, esse conjunto de práticas demonstra que os bicheiros tinham uma “relação umbilical de corrupção com agentes de segurança”.

Para a PF, essa estrutura corrupta é um dos braços que permite que a atividade criminosa se desenvolva livremente, deixando que “chefes, notoriamente conhecidos, possam, durante anos, não sofrer consequências da exploração da citada atividade ilícita”.
Sobre o envolvimento de policiais civis com a contravenção, citado na investigação, a Secretaria de Estado de Polícia Civil disse, em nota, que repudia qualquer tipo de vínculo de servidores de seus quadros com atividades ilícitas e, em casos tais que se comprovem participação de agentes públicos, será aplicada rigorosa reprimenda penal e administrativa. E que o combate ao crime organizado, em seus diversos segmentos, é uma das prioridades da corporação.

Nos últimos anos, segundo a Polícia Civil, foram realizadas diversas investigações de crimes praticados por organizações criminosas voltadas para exploração de jogos ilegais, inclusive no que tange a lavagem de dinheiro, homicídios e outros conexos.

A nota diz ainda que há constante trabalho de inteligência envolvendo agências das diversas instituições que atuam na persecução criminal estatal em nível estadual e federal monitorando tais organizações criminosas.

A corporação ressalta ainda que trabalhos investigativos recentes da Polícia Civil, com atuação do Ministério Público estadual, vem possibilitando responsabilização criminal e expedição de mandados prisionais em desfavor de contraventores tais como Rogério Andrade, Bernardo Bello, Adilson Oliveira Coutinho Filho, o “Adilsinho”, e José Caruzzo Escafura, o “Piruinha”.

Operação Mahyah

A Polícia Federal, em conjunto com o Ministério Público do estado, cumpriu um mandado de prisão, nesta sexta-feira, contra o bicheiro Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães,m dos principais contraventores do Rio, na operação Mahyah. Ele foi encontrado pelos agentes em casa, em Camboinhas, na Região Oceânica de Niterói. O contraventor permanecerá em prisão domiciliar, condição em que está desde dezembro do ano passado, após a operação Sicários. Cerca de 100 policiais federais participam da ação, que visa a cumprir 13 mandados de prisão preventiva e 19 mandados de busca e apreensão. Na operação Mahyah, os agentes conseguiram avançar na investigação sobre os negócios do contraventor, que se expandiram para o Espírito Santo.

A decretação da prisão do contraventor Capitão Guimarães ocorreu pouco mais de um mês depois de a 2ª vice-presidência do TJRJ suspender, em julho, um acórdão da 5ª Câmara Criminal que havia declarado nulas as provas da operação Sicário. A decisão foi tomada após pedido feito pela Assessoria de Recursos Constitucionais Criminais do Ministério Público do Rio de Janeiro. Com esse entendimento da Justiça, foi possível prosseguir a ação penal e as investigações da Operação Sicário.

Como parte da operação de hoje, os agentes interceptaram um carro cinza no meio da Ponte Rio-Niterói, pouco antes da praça do pedágio, que levava dinheiro arrecadado com apostas do jogo do bicho desta sexta-feira em direção a Niterói. Segundo a polícia, Guimarães tem o controle do jogo do bicho, de máquinas caça-níqueis e outras apostas nos municípios de Niterói, São Gonçalo e outros da região metropolitana.

Dois denunciados e os outros alvos das medidas cautelares cumpridas nesta sexta são integrantes e ex-integrantes das forças policiais estaduais suspeitos de atuarem na organização criminosa. Os agentes foram denunciados por homicídio ocorrido em 1° de julho de 2020, num posto de gasolina, em São Gonçalo. A investigação indica que se tratou de uma execução.

Também foram presos Deveraldo Lima Barreira, integrante da organização criminosa comandada pelo Capitão. Em outra casa de Guimarães em Armação dos Búzios, foi preso em flagrante Cristiano Cordeiro Dias.

A investigação é um desdobramento da operação Sicários, deflagrada em 7 de dezembro do ano passado, contra três núcleos criminosos, subordinados ao Capitão Guimarães, que controlam o monopólio de jogos de azar e exploração de bingos clandestinos na Ilha do Governador, Niterói, São Gonçalo e no Espírito Santo.

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